Modelo de seguros único protege 95% dos edifícios e serve de exemplo mundial.
A Suíça é um dos países mais preparados do mundo para enfrentar catástrofes naturais. Duas décadas após as históricas cheias de 2005, que causaram prejuízos de cerca de 3 mil milhões de francos suíços e resultaram em seis mortes, o país mantém um sistema de seguros único: mais de 95% dos edifícios estão protegidos contra desastres naturais.
Esse modelo, baseado na solidariedade entre segurados e seguradoras, permite que até imóveis em zonas de risco — como áreas suscetíveis a cheias, deslizamentos de terra, avalanches ou incêndios florestais — continuem seguráveis. Trata-se de um sistema que não apenas cobre os danos, mas também promove a prevenção através de investimentos conjuntos do setor público e privado, que somam cerca de 3 mil milhões de francos por ano.
O episódio de agosto de 2005, que inundou cidades como Berna, Thun e Lucerna, tornou-se um marco para o setor. Desde então, foram atualizados mapas de risco, reforçadas infraestruturas e implementadas novas técnicas de monitorização. Segundo a Associação Suíça de Seguros (ASA), se uma enchente semelhante ocorresse hoje, os prejuízos seriam até um terço menores.
Dupla solidariedade: todos os segurados contribuem com prêmios fixados por lei, independentemente do risco da zona onde vivem.
Cobertura ampla: inclui inundações, granizo, tempestades e incêndios, mas exclui terremotos.
Seguro obrigatório em quase todos os cantões: nos cantões com sistema público, as instituições cantonais assumem os custos; nos restantes, seguradoras privadas partilham os riscos através do Fundo ES, criado em 1936.
Sustentabilidade: entre 1970 e 2023, o pool de seguradoras privadas pagou cerca de 7 mil milhões de francos em indemnizações.
Em países como os Estados Unidos, Itália ou Japão, o seguro contra riscos naturais é opcional e frequentemente mais caro, criando uma “lacuna de proteção securitária”. Na Suíça, essa lacuna é de apenas 26%, uma das mais baixas do mundo, em contraste com a média global de 43%, de acordo com a resseguradora Swiss Re.
Especialistas como Stefano Ceolotto (Centro Euro-Mediterrâneo de Mudanças Climáticas) e Eugenia Cacciatori (Bayes Business School, Londres) apontam a Suíça como exemplo a seguir. O envolvimento ativo das seguradoras na definição de normas de construção e planeamento urbano é visto como um diferencial que outros países poderiam adotar.
O porta-voz da seguradora Mobiliare, Dominic Ramel, resume: “A melhor proteção contra danos é a prevenção”. Além das coberturas, a Suíça aposta em infraestruturas resilientes, dias de sensibilização e exercícios conjuntos entre cantões.
Num cenário de alterações climáticas, onde eventos extremos se tornam mais frequentes e onerosos, o sistema suíço de seguros continua a ser um dos mais robustos e inclusivos do mundo, garantindo segurança financeira e social à população.
Fontes consultadas:
Swissinfo (edição de Luigi Jorio, 01/09/2025)
Keystone-SDA
Associação Suíça de Seguros (ASA)
Swiss Re (dados de 2024 e 2025)
Rádio e Televisão Suíça (RTS)
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